Uma rosa depois do Tempo
Tem a envolvê-la uma tira de papel onde se lê: «Rosa dada pelo Grão-Duque do Luxemburgo no jantar de 22 de Julho de 1891. Luxemburgo, Chateau de Walferdange». Na inconfundível caligrafia da então embaixatriz de Portugal.
Está diante dos meus olhos, depois de mais de um século de escuridão numa mala do sótão. Sobreviveu, subiu além do Tempo, sempre na ponta do seu ramito, espalmada, sim, tal qual as folhas que a rodeiam a realçar o seu encanto. Como se de repente voltássemos atrás, sentados à mesa do jantar no Chateau de Walferdange. Explicando ao Grão-Duque uma série de coisas humildes mas talvez tão antigas quanto ele, sob o sorriso enternecido - tenho a certeza: enternecido - da embaixatriz e dos aromas e cores da rosa entre as suas mãos.
Espalmada, pois, mais as folhas que a rodeiam. Acastanhada. Mas viva como uma Rainha no coração das suas gentes. Eternamente viva e saudada no Luxemburgo que insiste em recebê-la, galanteá-la, cento e vinte e cinco anos depois.