Um desejo chamado cegonhas
Um dia a minha há de ser a terra das cegonhas. Como se, asas abertas, alguém gritasse ensurdecedoramente por essas palmas matraqueadas nos fins de tarde. Pela sua quietude hirta nos ninhos, pelas horas seguidas, sempre iguais, gravadas a preto e branco circulando o céu, petiscando o empastelado verde dos prados e sapais.
Também cá lhes proporcionaremos postes de alta tensão e gravetos para a sua construção civil. Árvores ramalhudas e rios e margens alagadiças rente às auto-estradas. E minhocas, larvas, bichinhos. Em que somos diferentes? Também nós olharemos todos os dias o olhar esquivo, a um tempo assustadiço e confiante, das cegonhas. Aviões franceses, como nos ensinaram, em voos só nossos, caseiros e familiares.
Exactamente como a gente vai carecendo.