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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Um buraco até ao fim do Tempo

João-Afonso Machado, 11.02.19

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Já nem os dinossauros se lembravam. Antes deles, a nossa Estremadura era o mar. Um mar que foi indo embora (agora parece estar a voltar) deixando por souvenir uma jazida de sal-gema, no fundo da terra, muito abaixo das pegadas dos ditos monstros, aliás indiferentes a condimentos na sua alimentação.

As águas pluviais, no queijo labirintico que é o subsolo da serra dos Candeeiros, completam a lição. Correndo sobre o sal-gema, vêm à superfície em Rio Maior, por um poço, um buraco só, decerto negro, sem fundo, povoado de Tempo, mistérios, do eco imenso do não retorno. Essas águas que o poço gargareja e expele, o calor estival seca-as e transforma-as em sal ali mesmo, quase no meio do Portugal continental.

Um sal rude, em estado puro, encarniçadamente pré-histórico - sete vezes mais salgado que o sal do mar.

Dei facilmente com o poço entre as salinas circundantes. Dormia a sua época de descanso, não acordará antes de Maio, quando torna a rugir água salgada como nos milénios de milénios em que os dinossauros ainda não tinham saído do ovo.