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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Torre de Dona Chama

João-Afonso Machado, 01.10.20

Vamos em pleno planalto da Terra Quente, com a bússola a apontar o norte. Almas, muito poucas naquelas bandas; rebanhos, alguns... O destino é Torre de Dona Chama, um lugar quase perdido e esquecido. Hoje freguesia do concelho de Mirandela, em outros tempos que o Constitucionalismo levou cabeça de município orgulhoso, decerto mais populoso, firme na justiça de que o seu pelourinho era o ceptro.

PELOURINHO.JPG

E, ao lado dele, a velha Berroa. Uma "porca de Murça" menos abonada, digo eu, em solos de fertilidade inferior; uma ursa, dizem outros. Não sei: seguramente um quadrúpede e mais uma achega para a colecção de lendas que vicejam na região. Dona Chama, Dona Chamoa, terá sido a senhora terratenente, ali com autoridade antes mesmo de Portugal nascer...

E Torre de Dona Chama parece dormir o sono da Branca de Neve. É domingo, não se vê vivalma.

CENTRO DA VILA.JPG

O centro da vila (uma cortesia governamental de 1989) reparte-se entre as utilidades (sendo evidente o monopolismo comercial em Torre de Dona Chama...) e o abandono, paredes meias, - um abandono que se dá ao luxo de deixar apodrecer uma vidraria-drogaria-etc engalanada à entrada por lindíssima parreira, monumento ímpar,

VIDRARIA.JPG

e, por fim, alguém, um ancião, comprovando que ainda estamos todos vivos. Apenas o casario não.

CASA  ESBURACADA.JPG

Porque a debandada é tão real quanto cruel. Torre de D. Chama soma hoje pouco mais de mil habitantes. Claro - os efeitos de tal escassez ecoam nos arruamentos sem voz

GALINHAS.JPG

exceptuando as das galinhas da vila, acomodadas nos rés-o-chão das residencias, aparentemente melómanas, ou então percursoras de revolucionárias formas decorativas.

Ir a Torre de Dona Chama não é regressar ao Passado. Antes será avançar no mais sinistro Futuro. Depois de um Presente onde paredes seiscentistas se conspurcam com persianas nas suas janelinhas encaixilhadas

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e a frontaria da antiga casa enobrece a sua ruína com um brasão sabe-se lá de quem, possivelmente de alguma guerreada partilha, ou de um mundo já há muitos anos citadino e desmemoriado.

 

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