Talvez seja melhor...
Soubesse eu, escreveria um madrigal. Talvez mesmo o dedicasse, todo em cores, subindo o monte num vagar apaixonado de quem vê pétalas e vê o céu, e faz raminhos e juras. Decerto a mente carregada de desejo, as pedras a poli-lo como um sentimento, e qualquer pardalito leve como as penas da bondade e do amor. E assim prosseguiria, nesta caminhada primaveril, de promessa em promessa, entre sonhos lilazes e amarelos, acrescentaria eu, os tons garridos dessa tua alma que anseio, etc, etc.
Mas não, não sei escrever madrigais. Gosto dos dias fugazes de Maio que antecedem os excessos estivais e a poeira em meu redor. Quero dizer: gosto da vegetação brava e multicolor, não sei porque hei sempre de imaginar a passarada a levantar de entre ela, não há penedo que não me traga à ideia uma cobra enroscada ao sol. Gosto de saber estamos na altura dos ninhos, o mundo talvez ainda dure este ano. Gosto dos cães a correr à vontade, sobretudo. Mas é tanto o bicho humano, que grande parte desses gostos se tornam inalcançáveis.
A não ser que aprenda a escrever madrigais. Mesmo sem vislubrar a cobra ao sol, uma sardanisca, sequer, mas sentado num calhau, esperando passe alguém digno de uma dedicatória.