Atenas (II) - Anoitecendo...
O sol tinha já fugido e a visita a Atenas não poderia ficar por ali. Nos picos circundantes, estranhas formas ainda se notavam, catalogações em aberto,
deixadas para dias mais calmos, eu subjugado ao politeísmo (ou talvez ao panteísmo), o sacerdócio dos ortodoxos gregos, ora aqui, ora acolá, nas ruas, de crença firme à vista e bizarras vestimentas, mas não consentindo a fotografia... Nestas congeminações, a Platia Sintagma surgiu diante de mim como uma evidência de grandeza:
Mormente o seu Hotel Grande Bretagne, onde de certeza me hospedarei numa próxima ida a Atenas e, muito perto, o Parlamento grego, o actual santuário da retórica, como são todos os parlamentos, mas este com a especial atracção dos Evzones:
corpos (regimentos, batalhões) de infantaria ligeira sempre presentes nos cerimoniais de honra em lugares de distinção. Uma pequena multidão assistia ao render da guarda, demoradíssimo, junto à escadaria da residência do vovô Sólon - simbolicamente falando, é claro, - numa geral estupefacção ante aquela fardamenta, que pede meças aos sargaceiros da Apúlia atamancados à mais provecta moda minhota, e o aprumo, o rigor e o orgulho da manobra.
Não, - deixando de parte o gorro, o saiote, a meia branca justa à perna, sem dúvida aquelas espingardas disparavam, e seriam de utilidade superior às forquilhas das nossas revoltas populares. Um belo bocado de excentricidade, um momento inesquecível, entre o divertido e o patriótico.
Escurecera tudo. Era sábado. Na Platia Sekeri, a gente nova aglomerava-se, conversava animadamente, muito afastada de todos os medos pandémicos. Jantei da boa comida grega, muito regada pela sua cerveja, e fui caminhando um pouco ao calhas, ainda atravessaria um apreciável naco da cidade até alcançar o hotel. Atenas arrebicava-se para a sua farra nocturna, passei a Platia Omonoia
e prossegui apreciando estátuas, que as há em cada canto. Do clássico, como a Kolokotroni,
ao vanguardismo do Memorial da Reconciliação Nacional:
Porque já na Antiguidade, numa pulsão, aliás, transmitida aos romanos, os povos da Hélade assim acreditariam - e continuam a acreditar - na Eternidade: mediante a grandeza escultórica, já que as coisas pequeninas da alma guardaram-nas depois nos seus templos do catolicismo ortodoxo, em votivas tabuínhas pintadas e douradas.