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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Por aí...

João-Afonso Machado, 29.12.20

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Andarei sempre. Na planície ou pelos montes, consoante as pernas mandem. Levando a espingarda. Até que Deus diga: passa-a ao seguinte - porque um caçador nunca se desfaz da sua arma senão por uma razão maior, e sob a condição de deposta em mãos amigas.

Andarei sempre. Com outro alvo, soube dele há pouco, é a "Nova Humanidade". Andarei sempre lutando contra o estropiar da gente, contra a plastificação do Homem.

Andarei sempre. Com a caneta, em último recurso, esperando a caçada perfeita, aquela em que a carga de palavras atinge em pleno o sentido do pensamento e das imagens.

 

Por aí...

João-Afonso Machado, 01.12.20

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Tenho para mim, Vergílio Ferreira desencontrou-se quando proclamou a eternidade é «a medida da impaciência», no mesmo tempo (in Na Tua Face) em que sustentava «a lei da vida é assim, quanto mais se vê uma coisa, menos se vê».

Eu, sem terra para tudo simplificar, fico agora numa encruzilhada, ignorando o que fazer: permaneço na paciência dos lugares bonitos - e morro, dou em ossadas a juntar ao monte, - ou abandono-os e ganho a infinitude?

 

Por aí...

João-Afonso Machado, 15.11.20

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Eis a pesada sombra do fim. O vento soprará sempre, mas as torneiras destruiram as torres. Ficaram miniaturas de Eiffel em quantos quintais, todos os dias menos, eram os velhos moínhos a puxar a água dos poços. Do que sobra deles não constam os ruídos das geringonças e das suas pás de ferro. Gargarejos de manhãs e noites perdidos no tempo e já sem terra...

R.I.P.

 

Por aí...

João-Afonso Machado, 26.10.20

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Quantos milhares de pares de olhos não perdi no andar do tempo e dos outonos, comigo espreitando as cores que envelhecem? Tantos quantos esse envelhecimento ordenou um dia - pronto! és tu agora uma folha caduca também: vai!

E os sinos, obedecendo, tocaram ao longe. Num momento que é de todos, na vez de cada um...

 

Por aí...

João-Afonso Machado, 04.09.20

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O vento assobia pelos corredores das casas. Não há como evitar irmos na corrente de ar - irmos sorvidos para lá dos montes. Onde as paredes do mundo começam a amarelecer, numa actividade insana das formigas carregando e descarregando para o inverno. Já a cigarra esmorece na sua euforia. É Setembro, a vindima sem fim.

 

Por aí...

João-Afonso Machado, 12.08.20

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Serão ás vezes quilómetros entre o sólido e a superfície líquida. No entanto, cá no topo, há atmosfera e vida. Malditos aviões enganadores, garrafas de oxigénio! De um ou outro modo, com ou sem eufemismos, nós somos a terra. Mais ou menos proximos dela - mas, também definitivamente, sem terra... Quero dizer, sem propriedade, a não ser a nossa identidade, ela só. E apenas remando (ou esvoaçando) contra o mundo perdido.

 

Por aí...

João-Afonso Machado, 14.07.20

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Talvez venha a confessar, pastei na grande duna fibrosa e bebi a água que me escorreu do corpo e lavou toda a minha memória. Exceptuando, é claro, a das muitas avalanches ocorridas, sempre rugindo no seu cilindrar da paisagem.

Por aí...

João-Afonso Machado, 08.06.20

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Deve ter sido Soult, entrando em Portugal por Trás-os Montes. Ainda por aí se escreve e diz "garage", à moda dos franceses. Será a cause..., ficou a palavra mas o exército invasor não passou o Norte. Não chegou a Faro, onde espero, lá do sul, ver o mapa todo na vertical, como antigamente na escola primária, e depois subi-lo sem palmatoadas nem choros nem arquejos.

Aposto que a carta se amolda e me deixa dormir em cima, pobre de quem não tem cama...

 

Por aí...

João-Afonso Machado, 22.05.20

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Quando não há cometas nos arredores, a Ciência vira-se para a Zoologia. Agora mesmo anda-se interrogando, quem melhor capacitado para dar transporte, alimento e guarida a pulgas e demais parasitas.

Assim a Ciência aprendeu sobre a fertilidade entre espécies. Cruzando caninos com ovinos, obteve formidáveis guardadores de casas e tosadores de jardins. Além de um majestoso palácio de carraças ao mais puro estilo manel.

 

Por aí...

João-Afonso Machado, 16.05.20

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Sou saloia, fui da pesca. Eu mais o meu homem não havia dia não fossemos ao mar pelo peixe, estivesse ele chão ou mais alevantado. Até aquela vez de uma onda lambona, traiçoeira...

O meu homem, quando o tiraram da água, morrera já. Escapei, tolhida pelo frio, molhada até aos ossos e viúva. E sem o meu homem que hei de fazer agora senão esperar a ferrugem e a velhice me levem depressa para junto dele?