Ser Direita
A questão do "nacionalismo" é perigosamente dúbia, enganadora. Quem ler Jean-François Revel (A Tentação Totalitária e Como acabam as Democracias) percebe claramente qualquer movimentação comunista começa por se afirmar "nacionalista", assustando as gentes com a eminência da invasão estrangeira. Assim procederam também os republicanos portugueses do início do século XX e quando nos empurraram para a matança da I Guerra Mundial. Feitas as contas, se a tropa se apresenta asseada e disciplinada, no bota-abaixo de um Regime, temos um golpe de estado; e onde houver uns barbudos a mastigar o charuto, de metralhadora na mão, vem aí a revolução esquerdista. Não é, assim, pelo lado do "nacionalismo" que se caracteriza a Direita. Justamente porque o dito "nacionalismo" não é um valor, um conceito, mas uma arma apenas.
A verdadeira Direita despreza os extremismos. Somente os gradua nas consequências da sua loucura.
Sequer a verdadeira Direita se foca no prisma ideológico. Há muito percepcionou o seu fim - as ideologias são meramente pretextos, conforme hoje bem se alcança das discussões parlamentares em torno do Estado Social vs. o famigerado neo-liberalismo.
A verdadeira Direita radica na Nação. Nas comunidades, no Povo, no respeito pelo Passado como indicador de um rumo, o do Futuro. Daí o seu orgulho pela História, vale dizer, pela continuidade do ethos nacional. De uma cultura identificativa. Nos nossos dias, a Direita só pode ter uma meta, jamais uma solução política inamovível.
Do que resulta a não exclusão de quem quer que seja. A Direita é pluralismo e liberdade. É orgulho de nós mesmos e do nosso ser. Não vive da importação de modas sociais e regimentais e relega a exportação para o plano estritamente económico - porque o das ideias pertence à Esquerda imperialista.
Por tudo, a Direita é essencialmente serena. E imparcial. Valoriza um empolgado António Sardinha tanto quanto a ironia queirosiana.
(Evidentemente, nos tempos que correm, muito mais esta última.)