Quase flamingos
Não lhe cheguei, a esse céu de formas elegantes, esguias, carregado de psicadelismo esvoaçante. Novos e muitos quilómetros se seguirão, talvez até ao dia da jangada e do varapau nas águas mansas da lagoa. Provavelmente da lagoa de Óbidos.
Foi insistente a procura da imagem alada e cor de rosa. Ficámos a uns duzentos metros dela, separados pelo sapal e ensapatados, indevidamente calçados. Mas o bando de flamingos estava lá. A patrulha das garças reais também.
E os patos, dezenas deles, boiando como brinquedos de corda a fazer quá-quá, os corvos marinhos, os galeirões... Toda uma cidade ribeirinha inacessível, por isso não condizente com a liberdade. Logo, não perfeita.
Avançaremos para a conquista dessa perfeição. Marchando talvez de galochas ou imitando as cobras, só de olhos à superfície, a caneta entalada nos dentes. Pirateando as intransponibilidades, criando, enfim, a bissectriz entre a estética da visão e as palavras que sabem explicar a vida.