Os dias
Quase sem dar por isso, suavemente, vim dar com os dias quedos, em pose de reformados. Os dias sentados numa grande mesa improvisada no parque, jogando a sueca todas as suas abençoadas tardes de preguiça. Ou então, entranhados do frio da época, os dias em amena cavaqueira, apenas adiantando uns minutos para dar passagem à carripana do Pai Natal. Os dias do futebol, das raspadinhas, os dias meninos como qualquer criança, apaixonados como qualquer parzinho jovem. Espantosos dias que um idiota, um selvagem, a um deles, dias, pontapeou como se o quisesse a correr o mês fora, em velocidade de automóvel, para chegar não se percebeu onde.
O dia atingido ganiu como um cão escorrraçado e refugiou-se nas iluminações, entretanto acesas, a decorarem a rua. À espera da ajuda do seu amigo, o dia seguinte.
Assim os dias encheram de música a vila inteira e proibiram o ruído. Tratam-se bem, em lanches e petiscos sem fim à vista, e os dias mais novos lá tentam patinar à custa de uns tantos trambolhões no pavilhão onde nunca anoitece.
E entre todos sobressaiem os dias esperançosos. Calados, discretos, pacientes. Mas, quem diria?, entre tantos dias confortavelmente instalados no presente, aqueles dias - uns dois dias - espreguiçam o seu torpor e o seu estar no futuro de um dia qualquer.