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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Odemira

João-Afonso Machado, 09.10.19

Em boa verdade, a minha Mãe, alentejana de cepa, pouco conhecia das suas origens. Nos meus passeios, chegando a casa, contava o que vira e a Mãe enchia o coração com a sua Provincia, esses recantos onde nunca fora. Sorria e confirmava o Alentejo a sua terra de eleição. Foi, vão lá poucas semanas, quando explorei Odemira, para Ela uma China qualquer.

Então falei-lhe daquele interior de paz, sem o alvoroço das gentes. Disse-lhe do rio Mira, para si um ilustre mas ignoto passante,

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limpo, a grasnar, tantos os patos, os cardumes de taínhas que subiam, a  Mãe nem dava conta que o litoral andava por perto. Mais expliquei, a seguir da ponte férrea era a vila, a sede do maior concelho português, e, em cada arruamento, o Senhor permanecia sereno.

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Depois fui buscar retratos da sua infância, as omnipresentes barras azuis ou da cor da laranja destas terras tão longe do Norte onde viveu e criou os seus filhos. - Oh Mãe! tudo tão limpinho! - Filho, o Alentejo é uma maravilha. - E desandou em memórias dos anos do seu Avô...

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Contei-lhe mais pedaços de Odemira. A Mãe gozava a descrição, na enumeração das suas imagens pacificadas com o não retorno a esse berço. Só não valia falarem-lhe na monotonia do cante.

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Expliquei-lhe, enfim, a vaga de orientais (nepaleses, paquistaneses) que invadiu tais paragens à cata de trabalho. E enchem os jardins públicos na hora do comer.

Mas à Mãe já nem apetecia saber. O Mundo deu as voltas que houve de dar e a Mãe vivia no tempo onde foi e onde quis ir mas não chegou lá. Era o seu Alentejo.

Minha Mãe, herdei-o do seu sangue, é onde tenho os meus olhos, uma lasca grande do coração. O mais, a Mãe vê agora com outros cores e um pormenor acutilante. Odemira, para mim, é uma visita interrompida, um "até breve", minha Mãe - comigo, nunca será uma alentejana solitária.