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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

O smarthfone

João-Afonso Machado, 27.05.17

SMARTHFONE.JPG

Durante os últimos cinco anos não abdiquei dele, do meu Nokia, muito dos bolsos das calças de bombazina e um excelente companheiro de caça. Volta e meia caía ao chão, mas levantava-se sempre, ajeitava o vidro, já todo rachado, e siga para a próxima mensagem, a próxima chamada. Um teclado formidável, quase funcionando às escuras. Certo dia consegui até ele captasse o Facebook! Com imenso ruído, lentíssimo, umas letrinhas minúsculas, tudo a lembrar o tempo das rádios piratas. Foi sol de pouca dura, provavelmente terá caído outra vez e danificado a antena. Senão mal que lhe desse nas pilhas...

Mas para a conversa, para uma boa discussão telefónica, era danado o meu Nokia. Que teclas afinadas, argutas, as suas! Quem se lembrará de lhe quebrar o argumento?

Recentemente, a operadora presenteou-me com um vale de 100 euros, toda insinuante dos seus aparelhos mais sofisticados. Somente, eu não ganho para isso: juntei-lhe umas patacas e vim de lá com um quebra-cabeças desconcertante, o meu smarthfone. Só o nome... - smarthfone! Sem teclado, obrigando a passar nele a polpa do dedo, a picá-lo com as unhas, falhando a pontaria, insistindo até acertar com o ecrã, com o seu sebento e frágil ecrã...

Já aprendi a fazer chamadas. A recebê-las, nem tanto... Tive de voltar à assiduidade do blazer, aos únicos bolsos condignos para esta porcelana caríssima. E vislumbro um mundo inóspito de funcionalidades, ainda inseminarei de música o bluetooth virgem do meu carro, telefonarei com as duas mãos no volante e hei de gozar as delícias Uber. Apenas necessito umas aulinhas, para isso, do meu professor João Maria, 12 anos, meu sobrinho e meu afilhado.