O minuto que foi nada
As gerações estão cada vez mais gordas. Disparatam a comer, sem pensar no badagaio, na famigerada trombeta que lhes dá a ordem - pró lar. As gerações são o mundo, o mundo é o Homem, e o Homem é tosco. As gerações têm somente o doce da memória. Que, usualmente, de nada lhes serve.
Tenhamos por exemplo um quase findo caminho de uma geração toda. Para cá e para lá, há muitas décadas, no rumo de uma amizade - essa sim! - a ultrapassá-las no vento, velas hasteadas sem passado, nem presente, nem futuro. E abra-se o livro na página da adolescência viajando à boleia, ao largo de invernos e verões. Eram sempre os mesmos edifícios rurais, cheirando a gado, a rampa subida e descida essses anos muitos. Atente-se naquele parágrafo - o a égua branca de través, montada pela loirinha de cabelo longo, muito amazona. Em plena calçada.
A Mitologia deteriora-se na crueza da realidade. Mas ela, a amazona, olhou.Talvez esperasse o rapazito encostasse à berma. Nada! Duas palmitas no focinho da égua, um assobio a provocar, e o caminho pela frente. Num breve relance de olhos nos olhos.
Teria bastado a palavra que não foi dita. Ignora-se se a égua saltava obstáculos. Mas a amazona dá agora aulas no Secundário. As gordas gerações de ontem, hoje e amanhã passaram-lhe ao lado. Não cavalgaram a calçada os netos das boas recordações deixadas para trás.