O eco de um adeus sem pontualidade
Ouvem-se ainda os passos hesitantes de um rumo desconhecido e vozes ansiosas, de velório, que o nevoeiro encobre, humilha. Seriam que horas? El-Rei marchava à frente, renitente, com os da sua derradeira confiança, mas ali há mais conselheiros do que coragem; e os pescadores têm mão no bote, entre o silêncio, a comiseração, e a força das ordens recebidas..
Cheguei tarde. A praia é já betão e as velas do mundo, desfraldadas à toa, como tantos e tantos, afundaram o iate real nos arquivos da História. Falha-me o espaço para um aceno até, neste areal, trincheira intransponível.
Entretanto, a traição de uma rota supostamente para o Porto. No Norte as enchadas demoliriam as choças, enquanto os quarteis toariam clarins de boas vindas. Mas todos haviam esquecido a pistola que não foi apontada ao ouvido do comandante do iate. Gibraltar, um argumento atenuado, tendo na mira a Inglaterra, o exílio sem retorno.
E tudo sem um adeus, uma palavra positiva num olhar de energia. A praia atulhada de betão pelo tempo, a pistola no bolso de ninguém, os turistas gozando o verde-rubro do sol actual. Que fazia eu ali, calado sobre como foi?, as lágrimas de Suas Majestades as Rainhas espezinhadas no areal movediço da Praia dos Pescadores... E um iate à deriva perdido em águas que nunca mais se encontrarão. Resguardei a alma deste frio do destino e abalei.