O eclipse
A televisão acordou cedo. - Alô, Faro?! - Sim, no Algarve o eclipse era também perceptível. E algures, nos arredores de Lisboa, foi uma romaria, os meninos todos da escola, protegidos com óculos de marciano, a não verem o sol, o ministro Crato entre eles, gozando a negritude momentânea, explicando, convivendo. Cenas semelhando outras, de uma autocracia passada... - Alô Açores?! - Sim, sim, aqui sim, há eclipse para dar e vender!
Manhã sombria. Nuvens e eclipse do sol, por junto, é muita coisa. Mais a mais, com aquelas a ocultar os efeitos da prodigiosa ousadia da Lua cavadora de trincheiras contra a magnificência do astro-rei.
Foi tudo muito rápido. Entre as nove e as dez. Uma manhã ratada. E, pareceu-me ouvir, desta marca, outra vez, só daqui a onze anos. Entre as nove e as dez igual a mais onze!... O melhor é continuarmos a formigar cá por baixo, razoavelmente à superfície, sem nos obsecarmos com essas infinitos complicados do Tempo e do Espaço.