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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

O comboio dos maus

João-Afonso Machado, 19.04.19

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Com o maior topete, a antiga ladeira em calçada passou a levar a parte nenhuma. A gente sobe-a e esbarra numa rede como a dos presídios. A entrada é lateral, subterrânea, através de um tunel que leva à gare, e os comboios tornaram-se silenciosos, desapareceu de entre os carris o areão negro, fuliginoso, de antigamente.

Até que, nas nossas costas se ouve um ruído de manobras, uma chiadeira infinda. A pequena locomotiva puxando uma catrefada de vagões cilindricos, carregados de cimento, vem deixá-los numa linha nova, aberta entre o edifício e a dita rede que só não nos tolhe a memória. O mais é uma enorme caixa de agulhas a ajudar à festa.

Tratava-se do saque do dia. O produto de mais um assalto à serra, a roubar-lhe o calcário de armas em punho. Assim aqueles relevos vão sumindo, transformados em fatias, assim a fábrica se agiganta. Souselas jaz no cemitério, mesmo encostadinho à cintura do monstro. Está na eternidade de todos os previsiveis amanhãs.