"Na hora da despedida"
Completam-se agora precisamente seis anos, iniciei a minha colaboração no Cidade Hoje. Eu tinha regressado à terra – e com que vontade!, com tão boa companhia, - depois de mais de três décadas de ausência estudantil e profissional. A residir mesmo em Famalicão, não pude evitar as comparações constantes, tantas eram as alterações em relação aos meus tempos de juventude. Eu deixara uma vila – pacata, orientada pelas horas badaladas no sino da Matriz – e encontrava agora, nesse mesmo local, um “centro” a fervilhar de gente e de ruas de sentido único, o polo de uma cidade que galgou Antas, Calendário, Gavião… As memórias eram muitas, em qualquer esquina me chocava com algum episódio do Passado e dar-lhe um pouco de vida, pela escrita, valia realçar no Presente os tempos menos fáceis de antigamente. Sem dúvida mais frios, menos dotados de transportes, mais bichanados aos ouvidos dos curiosos, talvez menos solidários ou, se melhor quiserem, não tão dotados de meios de solidariedade.
Mas havia buracos negros, rupturas impossíveis de entender: o estado a que chegou o Garantia, as velhas instalações da CGD, umas quantas outras manchas arruinadas, abandonadas, nacos de histórias que ficavam a um canto, por contar.
Em paralelo, na coluna do “haver”, um carnaval genuíno, o mundo desportivo famalicenses, as muitas iniciativas culturais, as feiras, os espectáculos, a boa comida, estabelecimentos que tive o gosto de cronicar e… o Parque da Devesa.
Sobre este, acrescente-se, era o fim dos matagais, de que os nossos olhos guardam apenas uma recordação turva, nebulosa; e o surgimento de uma vida nova para todos, obreira da absoluta modificação dos hábitos dos famalicenses. A dar um exemplo, o grande sucesso que foram as cãominhadas reflecte a proliferação das clínicas veterinárias por cá, o feliz final da bicharada vadia.
Por cima de tudo isto que ia acontecendo, havia ainda os que a doença ou o Tempo levaram, e urgia não deixar cair no esquecimento; e a gloriosa bandeira nacional, azul e branca, quando ela se ouvia flanar em Famalicão. Eram estes, em regra, os motivos da minha escrita. No final, umas tantas dezenas de textos.
Decerto não sobrava já muito a acrescentar. É sabido, os jornais necessitam periodicamente de renovar o seu repertório. Por isso, é chegada a minha vez de passar o testemunho.
Faço-o já com saudades, mas sempre com alegria por cada pessoa que me abordou com dizeres simpáticos e encorajantes sobre os meus escritos. Valeu a pena! E é com um obrigado a todos que me despeço do Cidade Hoje, para prosseguir a minha vida, de caneta na mão, em outra folha, em outro projecto, quaisquer. Até sempre, amigos e conterrâneos famalicenses!
(Da rúbrica De Torna Viagem, in Cidade Hoje de 21.FEV.2019)