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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Na Grécia, de comboio de Tessalónica a Atenas

João-Afonso Machado, 28.10.20

Meus caros conterrâneos, fui conhecer a distante Grécia, enquanto a pandemia ainda nos deixa circular no mundo. Uma viagem longínqua, cansativa, até ao extremo desse mitológico País. Estacionei a mochila em Tessalónica (a sua segunda cidade) e, rapidamente, acertei uma deslocação ferroviária, contornando os mares, até à capital Atenas.

Conviria ter presente, no mapa, os caprichosos recortes do território… que eu corri de norte a sul.

Como quer que seja, - fui. Cheguei a Atenas, mais de quatro horas no comboio, através de uma paisagem nada diferenciada, vale dizer, um fundo de montanhas despidas, nuas e secas, sem vivalma, como pano de fundo e, aos pés do viajante, uma estranha planície, por norma sáfara.

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Não que totalmente improdutiva. As máquinas agrícolas de grande porte davam nela em nuvens impenetráveis de poeira, e daí sairiam a ervilhaca, o milho, senão mesmo o algodão.

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Mas tudo – quão longe do nosso Minho ubérrimo! Além de alguns canais acastanhados de rega, ao longo de todo o percurso topei, apenas, um rio como nós os concebemos – largos e corredios de águas.

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E sempre fui congeminando de onde vinha a electricidade para aquelas depauperadas gentes, porque barragens, ali, - tão simples quanto no Sahara… Valer-lhes-á o baixo consumo de um povo que se amontoa, em mais da metade nacional, na histórica Atenas!

E o trem (dificuldade minha, chamar comboio a uma composição assim) prosseguia caminhos. Sem modernidades, apenas andamento. Nessa paisagem conformadamente igual, a planície, a ervilhaca, o milho, o hipotético algodão, ao longe o domínio dos deuses, os cumes carecas, o Olimpo, Zeus reinando entre os seus. Felizmente dormindo, sem disparar raios e coriscos… E o conta-quilómetros sempre a somar.

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De quando em vez, o trânsito por quaisquer urbes anunciadas em amachucados perímetros industriais e muita sucata. Nas estações ferroviárias, o amontoado de compridos atrelados de vagões de carga apodrecendo em ramais sem movimento. Mas que Grécia é esta? – perguntava-me – cheia de ferrugem e abandono, sem museus para tais antiguidades, sem vontade, assim desleixada…

E, no horizonte, o Olimpo (uma Serra da Estrela desarborizada mas levantada como uma árvore no meio do nada) e outros lugares montanhosos, privilégio de descanso dessa imensa genealogia de deuses helénicos. E, cá em baixo, a ervilhaca, o milho, quiçá o algodão dos seus veneradores.

Ora agora ou depois, o comboio parava em qualquer estação. Como em Larisa, cidade de algum peso; como em Tebas – a célebre polis de antes de Cristo, sábia, guerreira, - um quase tacanho apeadeiro. Estacado o comboio, lá ia sobrando o tempo para uma cigarrada fumada cá fora, na gare. Para umas fotografias também. À vista de maquinetas de reparações na ferrovia.

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Nesta Grécia sem parelha, perdida entre os muitos mares da sua história mediterrânica, ficou ainda a miríade de ilhas a que não cheguei. E sobre a estação final – Atenas?

Ora! Arredores à parte, a de V. N. de Famalicão mete-a num bolsinho. Mais não seja em traços arquitectónicos e limpeza do chão.

(Os gregos sabem o que passaram, e do que têm de se levantar. Vão lá cinco anos… Oxalá os portugueses não esqueçam, andaram muito perto de tal desgraça – de que se safaram graças a gente, à boa maneira da Antiguidade grega, agora ostracizada…)

 

(Da rúbrica Ouvi nas Caminhetas, in Opinião Pública de 28.OUT.2020)

 

 

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