Monsaraz
Outro concelho extinto. Outra vila carregada de história desde a sua conquista aos muçulmanos pelo célebre, famigerado, Geraldo Sem Pavor, aí por 1167. Nos nossos primórdios. A fortificação, num alto, era inevitável, contando os inimigos - Castela, de um lado, os sarracenos, do outro.
O tempo, menos belicoso, ditaria mudanças. No meado do século XIX, a velha vila de Monsaraz ver-se-ia integrada no recém-criado concelho de Reguengos de Monsaraz. Ficou a memória e a beleza do lugar.
Hoje Monsaraz já não espreita somente a aridez do Alentejo. Banha-a o lago sem fim do Alqueva. Conhecia-a antes de tanta água. Da água toda que a torna mais bonita e apetecível. Compreenda-se isto subindo às suas muralhas.
Assim a velha vila ganhou outra vida, apostada hoje no turismo. No Neolitico que a circunda. Em tradições de que não abdica: ainda agora reclama para si o estatuto de Barrancos, o poder legalizado de lidar "touros de morte". Uma tourada que decorre com os próceres do Poder Central, contra os enfermos das causas da "depressão urbana".
Quem lá habita, entre muralhas,
não engrupará, decerto, hordas obscenamente primitivas e sanguinárias. É gente modesta que vive dos restaurantes e do artesanato. Resta reconhecê-los e respeitá-los. Portugal não pode ser o alvo dos decretos legislativos e Monsaraz tem por si o peso da antiguidade, essa forma autorizada de permanecer o que é. Ainda na juventude do Estado, já o seu Hospital da Misericórdia operava:
Aliás, uma organização inteira dos de Monsaraz, à sombra do castelo, da sua maternal torre de menagem,
sabedores de si, habituados a silêncios que, pese embora a invasão dos estranhos, ávidos da sua beleza, se mantém,
sempre zelozos de um branco único, o branco que só o Alentejo consegue manter ao longo das centúrias, parco e humilde, grandioso na sua simplicidade de quem é e não comenta os outros, sejam, ou não, de gosto inferior.