Milão
Devo dizer, não apreciei grandemente Milão. E menos ainda os milaneses. A Catedral, a Piazza del Duomo, o Scala, o Castelo, o Corso e as galerias Vittorio Emanuele II, essa avalanche de lojas dos ricos, esses milhares e milhares de pessoas nas ruas, tudo se vê quase de passagem e de algodão nos ouvidos. Mais me tocam os eléctricos, muito parecidos com os dos tripeiros,
também sempre a «tangar», como escreveu Rubén A., espalhados pela cidade enorme. E, acima de tal plateia, o Giardino Indro Montaneli, onde os cães passeiam os donos, brincam entre si, e dos lagos e canais saiem animais imprevisiveis.
Galinhas de água e outros - tartarugas também - nas margens, caturras (um autêntico crime, mas enfim..) no arvoredo, e gralhas cinzentas nos relvados
Verdadeiras tardes de repouso! Mesmo dada a dimensão do jardim. A cãozoada tem lugar próprio para andar à solta. Por acaso, não se descobrem por aquelas bandas exemplares excepcionalmente bonitos, raças capazes de nos abrir a boca. Isto é: perdigueiros portugueses. Mas há a ternura das criancinhas
indo a matar a sede depois da correria, e as ninfas e as musas lagunares, num constante rodopio de mitólogos e poetas em volta delas, amarelas, poseurs, inspiradoras.
Perigosíssimas. Capazes de arrastar os mais incautos para as profundezas lamacentas, num sufoco horrivel, a gozar o estertor e a casquinar em cima do fim. Muito cuidado!