Estes meses depois
A tempestade é já um sabor amargo deixado para trás. As inundações sucessivas pela casa toda, desmoronamentos moles de cheiro suspeito a qualquer hora, a vigilia constante, o vaivém da esfregona. Foi um olhar terrível, uma expressão implacável de censura sobre as decisões que a vida comporta e o tempo, afinal, ameniza e lhes faz justiça.
Ficaram apenas as correrias desvairadas atrás do gato. E os gritos lancinantes deste, abocanhado pelo pescoço, ratado nas orelhas.
O mais são beijos ou aquela santa companhia, muito suspirada, enrolada no tapete, nas horas de leitura, de escrita, do serão televisivo. E noites tranquilíssimas depois de uma despedida efusiva, trepada pela colcha fora (e a gente sem coragem de perguntar se lavou as mãos...), lambida, lambida, lambida até à exaustão e ao contorno da cama na direcção do seu aposento.
Restam as idas ao parque e um andar já disciplinado, como se a trela não estivesse lá, em amena cavaqueira connosco. E o filme à Walt Disney termina à vista de um melro ou de uma pomba, especado, cauteloso, invadido pela gula, a marcá-la, a pedir encarecidamente perdizes.
Há fundadas esperanças para que dele se possa dizer uma obra-prima.