Esperando agradar, só queria um beijo...
A gente até se demora no malfadado telemóvel. E eles por ali, gozando o passeio, fitos nos saltos das rãs. Numa excitação que lhes provoca sede, um dar à língua sôfrego na borda do lago. A pequena, então, olha para mim, esperando qualquer coisa - mesmo um esticar de queixo muito prognata, ou apenas um monossílabo, «Vai!».
E ela vai. Mergulha afoitamente, debate-se cheia de músculo na atrofia dos nenúfares. Depois regressa e, ao sacudir-se, presenteia-nos com uma chuveirada das valentes. Mas não há como ralhar àqueles olhos. Os cães são muito sensíveis do que nós, mesmo o menos sagaz perceberia: a pequena sabe que o espectáculo é apreciado, gosta de agradar, anseia agora por um gesto à altura.
- Muitos parabéns! Linda! Linda menina, valente! - E é mais uma lambidela torrencial, umas calças enlameadas, o toquinho dela a dar-a-dar e nova corrida para a água. Lá dentro, antes da volta, o tempo ainda para toda a ternura do mundo posta nos seus olhos. Assim uma santa tarde na paz do Senhor.