Da minha gaiola
Antes de mais, uma confissão - endividei-me. E com um agiota, o mais vil homem cá da terra, posto os bancos nada quererem comigo. Mas eu não podia passar sem esse milagreiro acessório, uma gaiola sem rede em que cabe toda a muita bicharada.
Comprei a gaiola e, quase ao virar da esquina, enfiei um chasco lá dentro. De onde não mais sairá.
Sou de figadal aversão às modernas tecnologias. A semelhante ventania que nos leva o papel, as canetas, as ideias, tudo por troca com teclas e botões apalpados às escuras. Mas tão avançada gaiola valeu a pena, mesmo tendo já o agiota insinuado soltar os capangas no meu rasto, faltando-me o rigor no solver do empréstimo. E amanhã mesmo vou por alguma levandisca (cinzenta, amarela ou azul celeste, tanto faz), passarinho que não apanho desde os meus quinze anos. Quando andava por aí de pressão-de-ar em riste, dias de pavorosas carnificinas, e, na gaiola que possuia então, só cabiam vacas e cavalos, algum porco se apanhado com a boca na botija.