Crónica de um massacre
Naquele ponto exacto do arrabalde de Resende atracaram dois autocarros, como se a coisa houvesse sido combinada, tão célere e mortífera foi a descida das hordas transportadas.
O sol ia baixo. o lendário sardão, ainda entorpecido na humidade, muito a custo logrou esconder-se numa lura entre as pedras. Restava-lhe aguardar a malta ululante enfim se saciasse e voltasse para as suas naves. Deixando atrás de si... já não talvez cerejas, mas uma ou outra cerejeira.
E, cerejal adentro, o desditoso proprietário suplicava não lhe esgaçassem os ramos das árvores porque sem eles a fruta não tem onde nascer. Algo que faz imenso sentido mas parecia apagar os lumes saqueadores da aguerrida agremiação. Foi necessário negociar o tributo da paz, e a cereja já encaixotada veio a preços de dumping.
Tudo isto ocorreu há muitos séculos, mas ainda hoje os nativos de Resende recordam a famigerada incursão, a razia praticada pelos dois autocarros do Médio Ave na estrada para Lamego.