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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Cá vamos, ouvindo as ruas

João-Afonso Machado, 21.11.20

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É, a vida anda, apenas sobressaltada pelas estatísticas pandémicas. Com os vivos escondidos a chorar os mortos e tremendo por si próprios. Estranho modo, este, silencioso, oculto, sem alguém a falar de si ou dos seus. A vida, afinal, é recatada e cingida à sua ruazinha. Como, profeticamente, Irene Lisboa a descreveu, posta na sua janela, sozinha, de olho atento nas banalidades do quotidiano.

Já só quase as temos. A conversa dos empregados, o pregão das sardinheiras, a intriga da lojeca, qualquer escandalozinho comentado nos saguões. Era - é - a vida! Porque os hipermercados são, apenas, a manada pasmacenta.

E uma vida crua, como IL a descrevia. Sem moral, sem ajuizamentos, somente sobrevivida hoje, fugindo a ideias sobre amanhã. Humilde, dramática, sensivel. Com muitas notas de um colorido triste, mas rico em palavras. Vagaroso, sem gramáticas esdrúxulas, justamente ouvindo o som das vozes.

Como aqui na rua, íngreme e faladora. 

Também Augusto Gil e dois volumes seus - a obra toda - entre o panfletarismo e a heresia e os sinos do campanário.

(A uma velha capa que S. João deixou/A Virgem Maria ainda a aproveitou.../Escolhendo a parte menos gasta e puída,/Desfaz-lhe as costuras, tira-lhe a medida,/Talha uma roupinha para uma criança/Que era a mais rotinha das da vizinhança...)

São assim os dias correntes. Incessantemente parados, sem vento à vista, velame inútil num Oceânico Pacífico de letras e enredos.

 

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