Assoando
Falemos de João Soares. Façamos-lhe essa caridade. Mas não esquecendo o determinismo do velho Lombroso dos recuados tempos da Faculdade: como as propensões do indivíduo se patenteiam na sua fisionomia.
Tendo bem presente as bochechas e a barbela, a voz côncava e o olhar torcido e vingativo de menino mimado, do eterno aluno do colégio particular. Acomodado tanto quanto revolucionário.
Do «social-democrata de sempre», em entrevista recente, ao «não me passes a mão pelo pêlo» com que o indomesticável Garcia Pereira repeliu, certa vez, uma sua aproximação ao vanguardismo dos maoístas. Da sua inconsistente e tonta, ora posta de lado, recusa de gravatas.
Da sua incontrolável necessidade de falar de si, da sua anedótica coerência pessoal e política, do agnosticismo e do avental maçónico. Dos honrados combates perdidos, as boas causas por que dá uma expressão balofa afinal - e finalmente - de ministro.
De um discurso a simular o apaziguador e solidário e uma atitude fracturante e maniqueísta. Amigalhaça. Do triunfo da incompetência alcandorada ao Poder, talvez prémio, talvez barbitúrico.
É quanto basta para uma caricatura, na verdade retrato fiel, - nem sequer caricatura... - da República portuguesa.