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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

As águas já sobem?

João-Afonso Machado, 08.12.19

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De passagem, nem uma cancela, somente a pedra sobreposta a demarcar tal projecto de mato cerrado. Sobravam ainda as tangerineiras e os braços depenados do diospireiro, de onde suavam pingos melados de um alaranjado ácido, a contragosto da maioria.

Aves - nem um melro. A notícia fizera-se ouvir já: vem aí o grande turbilhão, milhões e milhões e milhões de metros cúbicos de água, e a invasão tragará leiras, hortas, uma aldeia inteira.

São coisas do Alto Tâmega. Negócios carregados de organigramas (suponho mesmo, com muito mais quadradinhos do que números reais), cujas vítimas ainda serram os últimos pinheiros, por mais umas moedas que eles possam valer. O dinheiro a sério, às sacadas dele, é como a água: foge entre os dedos dos menos poderosos, assim como os engole e afoga de seguida.

Por isso, nem o betão das barragens nem o volume das albufeiras. A Natureza  não gosta de se ver travada nem inundada, a não ser por si própria, ora faça sol, ora chova.

E sendo eterna, sobrevirá sempre, assim a destapem de obras vãs e dizeres incompletos.