Alcazares e Tapiocas
«Os Capitães de Abril não vão discursar» - oiço pela enésima vez nos noticiários. Já com largo enfado, acrescente-se, posto os valorosos militares de há umas semanas a esta parte não fazerem outra coisa senão discursarem. O que não seria de esperar não ocorresse persistirem em se considerarem uma espécie de donos do Regime. E não são.
Vamos por partes. Todos devemos à Revolução abrilina a liberdade de dizermos o que pensamos. Obrigado, Srs. Capitães! Não fora V. Ex.cias e eu ver-me-ia a braços com a polícia política a tolher-me a voz sempre que a levantasse exactamente contra o Regime (republicano e ditatorial, é claro).
Daí o lugar na História a que os militares de Abril têm um indiscutivel direito. Assim a modos de quem põe coroas de flores aos pés da estátua do António José de Almeida.
Porque quem proporciona a liberdade não pode restringir a liberdade. Não pode apontar rumos a essa liberdade, quero dizer, não lhe é permitido, em nome de um desempenho histórico (sem dúvida), intervir institucionalmente nos caminhos escolhidos pelo povo a quem - e por quem, alegadamente, - movimentou o fim da autocracia. Até prova em contrário, o sistema eleitoral define a vontade popular.... Caso contrário reeditariamos Gomes da Costa!
O Sr. Coronel Vasco Lourenço entenderá - se um dia participou no levante dos anseios silenciados dos portugueses - como português resta-lhe usufruir desse benefício como cidadão que é, pronunciando-se a título pessoal ou no quadro de uma entidade política qualquer. O Conselho da Revolução foi um abuso e a Associação a que preside há muito parece arrogar-se de um direito potestativo abusivo também.
Indo sempre por partes, podemos todos abreviar. Quanto à intervenção dos militares abrilinos. Os quais só deveriam seguir o exemplo do exemplo ético e desinteressado que tantas vezes apontam - Salgueiro Maia.