A Rolinada
Há outros "25 de Abril" na nossa História, conquanto sem a força de um feriado. Como houve muitos outros primeiro-ministros, ainda que - alguns - de modo diferente designados e com marcas assaz diversas no rumo dos acontecimentos políticos. Do conjunto não seria desinteressante uma resenha. E na bissectriz dos dois temas - as datas e os homens - encontramos o Duque de Loulé e o pitoresco episódio da Rolinada.
D. Nuno José Severo de Mendoça Rolim de Moura Barreto, o 2º Marquês e, em 1862, o 1º Duque de Loulé, pelo seu casamento com a Infanta D. Ana de Jesus Maria, era um radical setembrista - encurtando razões, um militante da extrema-esquerda de então - e o fundador do Partido Histórico. Um populista, não obstante Oliveira Martins sobre ele escrever (in Portugal Contemporâneo) que «foi entre nós o tipo mais perfeito, senão o único desses fidalgos democratas ingleses, que amam o povo abstractamente, mas não dão a mão à gente porque descem». Dirigiu ainda a Maçonaria portuguesa que não lhe regateou apoios na sua inegável e elevadíssima vontade de Poder. No qual, de resto se manteve como presidente do Ministério durante o fugaz reinado de D. Pedro V e o dealbar do de D. Luis.
Conturbados tempos de intriga partidária, já com o interesse nacional tratado do modo que hoje vamos sabendo. Mas a Rolinada (o termo deriva de um dos apelidos do Duque - Rolim) prendeu-se com questões mais comezinhas. O seu Governo resolveu implicar com os estudantes de Coimbra, negando-lhes o chamado "perdão do acto", uma espécie de dispensa de exames e de pagamento de propinas em homenagem ao nascimento do herdeiro da Coroa - neste caso, o Príncipe D. Carlos e no ano lectivo de 1863/64.
A Academia revoltou-se e a cidade entrou em convulsão. Foi preciso reforçar os contingentes militares com tropa vinda de fora e Antero de Quental, finalista de Direito, já muito tomado de cepticismo, acordou da sua apatia e assumiu o comando dos estudantes. A estratégia adoptada consistiu na retirada para o Porto, em comboios, de meio milhar deles.
O protesto surtiu efeito. O governador civil de Coimbra e o reitor da Universidade foram demitidos. Os revoltosos amnistiados. E o Duque de Loulé apeado do Poder alguns meses volvidos, ainda que por motivos mais centrados nas faenas da Capital.