A Pocariça
Tem um hino, tem leitões, caçadores, vinhas, um vinho afamado - o Poço do Lobo. Tem gente do mais hospitaleiro que me foi dado conhecer. Tem um passado de memórias minhas que remontam à primeira perdiz que matei. Aqui na Pocariça, do concelho de Cantanhede, em plena Bairrada, onde as povoações crescem muito na beira das estradas,
nem sempre exibindo um gosto arquitectónico apurado, o que não é o caso presente: terra muito de brancos, sobriedade e limpeza de alma, deixando-nos indecisos, algures entre a Primavera e a Páscoa.
Tem os seus heróis, começando por António Fragoso, musicólogo, compositor, executante... A Pocariça assinala e cuida da casa onde viveu, presta-lhe uma homenagem constante. É, aqui o bom gosto impera, comove a sua igreja de Nossa Senhora da Conceição, alvíssima,
o florido em volta, dir-se-ia, o compasso pascal está quase em marcha. Na outra extremidade, uma raridade, a capela de S. Tomé,
que no Porto se chamava capela dos Reis Magos. O templo (ou, pelo menos, a sua fachada) é oriundo da Baixa tripeira, onde foi demolido para alargamento da Avenida dos Aliados. Um capitalista recém-chegado do Brasil, pocaricense de berço, comprou aquele granito bem trabalhado e enxertou-o cá, em pleno reino da pedra de Ançã.
A capela de S. Tomé precisa de umas pinceladas a condizer com o asseio da Pocariça. Onde, a finalizar, existe - um segredo deles - uma variedade única de leitões, com asas de abelhão. Mesmo já assados, continuam a zunir em nossa volta, largados como caça, capturados para o prato com zagaias e muita pontaria dos garfos.