A lenda do Sem-pavor
Avizinhava-se o parto de Portugal. O feto crescia encabeçado no velho Minho, as pernas descendo Mondego abaixo.Todos foram chamados a auxiliar o feliz sucesso. Contam os anais, Geraldo, em Évora, deu o máximo da sua medicina.
Lembro-o da minha caderneta de cromos da nossa História. Com um pequeno elmo na cabeça, sem cota de malha, a veste de meia manga e o braço erguido com espada pequena a zurzir nos sarracenos. Tinha consigo um grupo de homens de armas e o desagrado de D. Afonso Henriques. Ao que parece porque, pelo caminho, ele e os seus apaniguados, matavam todos, incluindo cristãos. E estes, na altura, recomendava-se fossem poupados.
(Hoje não se pediria tanto a Geraldo Sem-pavor. Bastava que tomasse Borba - a Borba inteira - e a devolvesse aos de Queiroz.)
Sabedor do seu estatuto de fora-da-lei, ofereceu Évora ao Rei. De quem, assim, obteve o perdão das suas precipitações.
Geraldo, alvitram os historiadores, provinha deste Norte friorento de Castro Laboreiro. Por isso combatia no Sul em mangas de camisa. Desconhece-se a sua progenitura, mas calcula-se o pai tivesse casado à sua vontade. Sua Magestade El-Rei agradou-se dele, parece o fez cavaleiro.
É um eterno guardião, ainda agora. A maior praça de Évora tem o seu nome. Dizem os cronicões, antes serviu os velhos Menezes de Pousada, e o ensinou nas artes das armas um inominado de barbas brancas, coevo e vassalo de Gonçalo Mendes da Maia, no Baixo Minho.
Como quer que seja, foi um grande guerreiro. Uma biografia a que todos devemos estar atentos.
Documentos recentemente descobertos demonstram, inegavelmente, Geraldo um profundo amador das damas. Muito achegado e galante. Se não ãntre o milho, já nos jardins dos paços que depois frequentou.