Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Douro

João-Afonso Machado, 31.05.11

Era o rio, nesse tempo, que me devolvia a liberdade. Em pequenas doses, é certo, tardes de rio mais a cana de pesca e o piar das gaivotas, a olharem de esguelha, asas no vento, o passinho travado. Quando não, madrugada fora até nascer o sol, calhando o robalo andar com fome.

Era o rio, mesmo entre magotes de pescadores, se a cavala e a savelha entravam. Inesquecíveis, deliciosas conversas que me anzolaram a memória. Como correm os anos, meu Deus!

Eramos felizes, eu e o rio. Com ele me sentava à mesa, depois, com as suas cores, o bater das águas nas pedras, o peixe por mim amanhado, assado, devorado. O meu peixe, pescado no meu rio, uma palmadinha nas costas, agradecida, - hoje rendeu, para onde mandaste a nortada?...

Eram também as tasquinhas na vizinhança, uns canecos de branco espertíssimo, muito fresco, e, a nadar neles, a petinga, os carapauzinhos fritos.

Era tudo isso e um coração renovado, o regresso à prisão. Até à próxima fuga para o rio e os seus falares. Sim, no rio a animação produzia marés de reflexão, cantares de silêncio. Um encher de pulmões antes de submergir na incompreensão. Quer as nuvens trouxessem trovoada, quer o sol me despisse a camisa, ... quer as estrelas apertassem devagar os botões do meu agasalho.

Era o rio. Horas e horas e horas, muitas centenas de horas, meia vida de rio.

 

3 comentários

Comentar post