O maior do mundo, aposto
Moure, Vila Verde. Em mil oitocentos e troca o passo. O cocheiro passa e comenta, entre solavancos e lama que espirra:
- Valente eucalipto! Fresca sombra...
E prosseguiu, o chicote estalando, ainda tinha umas léguas pela frente até Ponte do Lima...
Muitas outras léguas, muitíssimas, correu o tempo. Essas léguas chamadas décadas ou, postas num molho, séculos. O eucalipto, sem querer saber da estrada, entretanto empedrada, depois alcatroada, continuou a trepar e a ganhar corpo. A espalhar a sua frondosidade num redor cada vez mais largo. E a atrair a atenção dos passantes. Não foi por acaso, nas suas costas alguém se lembrou de construir um imponente restaurante e o convidou para padrinho. Que sim, aceitaria - desde que o baptizassem com o seu nome: "Eucalipto".
(Na época dos tordos, era ponto de paragem obrigatório, no regresso, para a almoçarada da praxe; sacratíssimo cabrito, abençoado lombo assado!)
Mas esta maçada das auto-estradas desvia-nos da vida. Nada sabemos do que vai acontecendo. Foi, para mim, uma notícia tristíssima: o eucalipto de Moure - faleceu.
- Com foi? O que aconteceu?,
- Tivemos de o cortar...
respondeu o interpelado, nada conformado, mesmo com cara de quem vota contra a eutanásia. Descobri-me e disse uma prece. O eucalipto, apesar de tudo, ficou memorizado em estátua. E deixou dois filhos gémeos, ainda menores. RIP.