Rumo ao mundo perdido
Programámos esta viagem além- águas, carreada de riscos. E embarcámos, finalmente, um nó na garganta... Regressaríamos? A aventura começou no embalo de um meio frágil, a todo o tempo sincopando por acidentes vários, atemorizantes. Já só viamos desgraças pela frente. Cada minuto, cada momento de vida ganho. À nossa volta, um enxame de gente exótica, calções, havaianas, um falar peculiar, incompreensivel, quase.
Mais os macacos que se penduravam nas varas - macacos de cauda longa e retorcida - e uma ameaça calada de serpentes... Anacondas, forças constrictoras, o abafo... E os caimões, as onças, a enciclopédia toda. Sob a camisa, pús a mão na faca afiada, sempre serviria para cortar qualquer coisa. A viagem prosseguia, índios, negros e brancos - escassa minoria - em busca do porto final, de uma refeição capaz, finalmente. Já tinhamos perdido a noção da aventura.Ou melhor: refaziamo-la: aventura ou loucura?
O homem do leme parecia indiferente aos nossos temores. Avançava. Contra tudo e contra todos - continuava a avançar. Num galope só contrariado pelas correntes adversas.
Mosquitos, melgas, um cheiro nauseabundo. Não me peçam para o defenir. Era o pântano, eram as gentes, era o aperto. Até que a voz correu: por agora, a viagem atingira o seu termo.
Acostámos, então. A tarde ia pelo meio. A Amazónia é um mundo estranhíssimo. Um labirinto de cursos fluviais. Tínhamos chegado ao seu coração. Saltámos a terra, já enjoados daqueles costados laranja, fumegantes e solavancados. A terreóla chamava-se Sete Rios. O porto, Zoolândia. Desembarcámos de máquina fotográfica em riste. Os primeiros disparos atingiram este par de araras.