Esforços outonais
O restolhar no folhame, percebi, era algo intimidatório. Seriam os sapatos adequados àquele matagal?... Comecei logo explicando, o Outono não morde... Sequer é frio
(- Deixe lá o discurso tropical...),
e faz bem às crianças, enrijece-as, lava-lhes os pulmões. Depois, é colorido, à sua maneira, claro. Mas cada estação guarda ciosamente as suas cores. Virá ainda o Inverno e a alvura dos seus nevões, não nos precipitemos... Aqui ninguém tem pressa.
- Olhe à sua volta, regale-se com este mundo de castanhos...
Parecia mais amena. Notou a abundância do musgo, a humidade escorregando no granito, impregnada no ar...
- Claro, não fora assim, onde o apanhar para forrar o presépio?
Minho sem humidade não é Minho. Como não o seria sem esta eterna melodia das águas das fontes, um fartar delas, basta olhar em redor.
- Daquela lá ao fundo, vê?, bebe-se da milagrosa. Não há desidratado que não ressuscite, se lhe acerta com a boca...
E por aí fora, sob as tílias, a caminho dos cedros. Afinal, as solas tinham sido excelentemente escolhidas. Aderência total, num terreno onde a humidade também gosta de pregar a sua partida aos mais incautos.
Ainda não chegou o tempo das luvas e das galinholas alando-se de entre os fetos. Dessas voltas matinais com os cães, exigindo depois a feijoada, o bom copo, a sesta dominical. Para já, é o Outono. Uma amostra. Quem vem de fora, deve ser cerimoniosamente recebido aqui na região. Quer dizer, cautelosamente. Muito esmiuçadamente. De modo a que não subsistam dúvidas: sem frio, não há aconchego da lareira; sem chuva, sofreriamos todos o mutismo das bicas e dos fontenários. Ora isso são desastres que bem podem ir ocorrer na terra dos outros... Apenas lá.
Tem sido, em suma, uma negociação bem sucedida, o trato está quase firmado. O lugar é meu, garantem-me - vou ser guia turístico finalmente...