A gente está sempre a aprender
Bela vivenda, sim senhor! Há uma parecida na minha terra, assim côr-de-rosa, mas muito mais pequena, claro, e falta-lhe o arvoredo. Além de que esta tem vista para o mar e transportes públicos à porta...
Um parzinho namorava na relva, perto de mim. Talvez se disponibilizasse para satisfazer a minha curiosidade. Pedi desculpa e inquiri.
- Isso aí? É o Palácio de Belém.
E sufocou-se num beijo enorme, de quem esgotou o repertório de informações. Afastei-me. Um palácio! Sempre ouvira dizer, palácios pertenciam ao passado, às monarquias... Mas este até tem uns guardas empenachados ao portão, de espadas em punho... Já sei! É uma embaixada. Da Etiópia, possivelmente. Não, está ali a bandeira: do Gana ou dos Camarões. À grande e à francesa, estes africanos... Mas sempre a queixarem-se.
Ainda sem certezas, abordei um cavalheiro, já de idade e sem namorada. Com tempo. Então que embaixada era aquela?
- Embaixada? A sede da Presidência da República, diga antes!
Embasbaquei. Mas a República não vive tirando aos ricos para dar aos pobres? E alapa-se assim, toda luxo e requinte, ele é só Mercedes a entrar e a sair... O ancião sorria.
- Para dar aos pobres? Meu jovem amigo, pureza a sua... Olhe, dali, a aproveitar ao povo (pagando bilhete, evidentemente), só o Museu Nacional dos Coches. Aliás, fundado pela Rainha D. Amélia, como Museu dos Coches Reais... Mas desde 1911, quando eles se instalaram...
- "Eles", quem?,
quis saber, já completamente baralhado na História.
- Eles, os Presidentes da República. Ou o meu amigo julga que esta gente não gosta do bem bom?
Bela vivenda, perdão, palácio, sem dúvida. Com vista para o mar e guardas perfilados ao portão. De repente apeteceu-me ser Presidente. E, numa derradeira interrogação ao simpático velhinho:
- E o que fazer para chegar a Presidente?
- Para chegar a Presidente? Oh oh oh!!! Talvez jogar todas as semanas no euromilhões. E, ganhando, comprar o Palácio de Belém.