Uma figura veneranda, aquele pai.
Heroico, sem dúvida, aquele pai. O filho - reputado jornalista a quem muitas vezes pedimos moderasse debates República v. Monarquia - não esconde as suas simpatias pelo PS, muito embora com lucidez e imparcialidade bastante para se afastar da militância. E com alguns momentos de aflição pelo meio, sobretudo quando o pai resolve dirigir-se a son ami Mário Soares e escrever-lhe algumas verdades oportunas e cruas. - Pai, pai!, contem-te, isso não se diz...
Mas o pai diz. Preto no branco, em redacção lúcida e tesa como ele é. Um homem sem outro diploma além do da 4ª classe, que vive feliz com os filhos por si criados e educados, nomes prezados lá na terrinha e mais além. Uma inteligência vivissima cultivada longe das novelas, entre toda a informação televisiva disponível e submetida ao seu crivo crítico. E, o que mais impressiona, um falar invulgarmente rico de termos e expressões, onde a ironia e a metáfora dão bem conta da sua lucidez e do modo patusco com que encara a política e outros dislates da nossa existência.
Tem 90 anos. E autoridade bastante para condenar o «banditismo» de Soares quando quis «incendiar o País» apelando à «revolução dos sindicalistas». Soares, na realidade, não é mais do que uma criança, ao pé daquele pai. E mais irresponsável, menino mimado, do que todas elas.