Momentos trastaganos
Podia ser ainda a voz do sangue, mas creio-a não tão forte. Ou o gosto de partir e a consciência de que para aqueles lados o mundo é imenso. Mas há mais no ímpeto das incursões alentejanas. Mais até do que o chamariz das perdizes e das lebres. E da eterna comparação com a nossa História e orgulho minhoto. Não sei bem o quê - algum dia o descobrirei... - mas algo é, acredito que a vastidão, o fatalismo, um horizonte de terra, senão mesmo de aridez, longinquo como o mar.
E a eternidade do silêncio. Como se o tempo não se movesse, apenas as amplitudes térmicas a ensinar-nos a mover os pés. Ou então todo o ouro que custa uma sombra e uma charca de água, o voo rodado das águias. Em tudo o Alentejo esmaga, queima, afoga, sofre e ensina o sofrimento. Somente deixando vivas as saudades, as suas imagens, o grito calado como o de qualquer refúgio.