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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Assim escapámos com vida...

João-Afonso Machado, 21.05.13

Afinal é mentira, falsidade que a História, em geral, e Eduardo Noronha, em particular, mantiveram ao longo de décadas - o célebre Zé do Telhado não morreu, homem novo ainda, barbado como um miguelista saudoso, ao fim de um ano de degredo em Angola. O homem está por cá, implacável, salteador de gema, talvez um pouco mais pesado e já de lunetas. Todos fomos quase suas vítimas, o domingo transacto.

Todos - os que caminhávamos de Landim para Seide, em passeio invocativo. A coisa deu-se nuns matos, não muito longe das águas negras do Pele, de onde o aventureiro se descobriu de arma em riste, reclamando ouro e dinheiro, como um vulgar ministro. Pânico geral entre os passantes. A morte ameaçava-nos pelas bocas negras de dois canos de espingarda.

Um proprietário da região foi a voz providencial na circunstância: gritando - Camilo Castelo Branco viajava connosco, Zé do Telhado! - O amigo Camilo! Reconhecendo-o, cairam nos braços um do outro. Tinhamos, por isso, escolta até ao nosso destino, protocolo firmado assim que desvaneceu a confusão suscitada pela quadrilha do Zé, de varapaus em riste a entrar antes da deixa.

A viagem prosseguiu sem outros sobressaltos além dos comunicados por dois transistorizados que iam informando dos resultados na Luz e no Dragão.

Dá-se o caso de já antes eu topar o meliante, com a sua arma envolta num retalho de chita colorida. Daí a minha irresistivel curiosidade, assim o ambiente tornou à suave verdura dos fetos: - então, sr. do Telhado, que maravilha é essa de que se faz valer?

Ele sabia muito bem. Era uma centenária Saint Etiènne, cal. 16. Olhei-a de ponta a ponta e cobicei-a. Imaginei-a restaurada, sem aquela fita isoladora a firmar a coronha, rebrilhando na parede da minha sala. Talvez ainda disparando... Infelizmente, porém, o Zé do Telhado não se lembrou de a esquecer encostada a algum pinheiro. Porque senão a História voltaria a ter de se recontar...