O "Cedro Grande"
É o nome por que sempre conhecemos esta pseudotsuga, com mais de trinta metros de alto, classificada de interesse público.
Um gigante e um espaço desde a infância indissociável das nossas brindadeiras e dos nossos sonhos. Dos nossos esquemas...
Teria os meus 17 anos. Lembro-me desse misterioso telefonema, uma voz lindíssima, queria encontrar-se comigo, só podia ser alguma beldade cá da terra!
Expliquei-lhe as rotas que conduziam ao Cedro Grande e marcámos a hora. Mas, ainda assim, tão inusitada proposta deixou-me a pensar. Cautelarmente, fui mais cedo e, com a ajuda de umas cavilhas que habilidosamente colocára-mos no tronco, subi (outra agilidade, outro peso, outras décadas...), subi aos ramos cimeiros. E pus-me à coca.
Ela foi pontual. Chegou assobiando e... enorme! Um verdadeiro bombardeiro, já sem aquele mavioso trinado, roncando de todos os motores. Nem mais do que a..., o monstrengo da minha turma!
Dizem que o medo dá asas. A mim deu-me ventosas. Sim, entrei em pânico. Se vissem aquele carão, a sua musculatura! E se eu espirrasse? Se fosse topado?. Ainda era ali esmurrado a beijos, triturado num ajiboiado abraço. Nem ousava respirar. E a matulona sentou-se num penedo vizinho, decidida a esperar. Primeiro a resmonear ditos imperceptiveis, por fim desbragando-se em impropérios de carroceiro.
E eu lá em cima, aflito como um passarinho. Pensando em Monteiro Lobato, nas aventuras no Sítio do Picapau Amarelo, a Cuca, horrenda, a Iára (a pentear-se ao luar, fulminante para quem a mirasse) e, sobretudo, a mula-sem-cabeça-que-deita-fogo-pelas-ventas.
Até que a criatura se fartou e partiu. Deixando no ar uma nuvem de mil ameaças de morte. Vendo a costa livre, desci o Cedro Grande e só parei em casa. Onde o meu Pai, exigentíssimo com o horário das refeições, não parecia disposto a perdoar o atraso...
Por meias palavras (para deixar a Mãe à margem) sempre fui justificando o sucedido. Uma senhora... aflita... queria falar comigo... mas só treta, afinal. O Pai percebeu - e deixou-me sentar à mesa.
- Pronto!... Mas assuntos desses só umas tantas freguesias adiante. Não quero maçadas aqui à porta.
E eu ataquei, esfomeado, a feijoada. Ainda hoje os meus irmãos gozam com esse casanovismo de cacarácá.