"O Sentido Nacional de uma Existência"
Em 1913 morria de uma «congestão cerebral» António Tomás Pires. Quem? Somente um folclorista elvense, estimadíssimo na sua terra e de reputação um mestre da etnografia lusa. Alguém, afinal, muito maior do que o seu aparente anonimato. Dando passos de uma vida sempre apontada ao assumido rumo de sua portugalidade.
O decesso de António Tomás Pires inspirou esse grande ensaio de António Sardinha - O Sentido Nacional de uma Existência. Tão calhado de ler, especialmente em data comemorativa (?) da dita "independência nacional".
A evocação de Sardinha, acrescente-se, não atinge este ou aquele, o nosso vizinho ou o nosso conhecido, o nosso adversário político. Antes se volta contra todos nós, membros de uma sociedade minada pelo «atomismo individualista», sofrendo a «crise máxima de um povo que não sabe de onde vem nem para onde irá». Como resultado óbvio de décadas e décadas de «divórcio entre a Nação e o Estado».
Talvez se perspective contra esta visão apocalíptica (Sardinha tem esse ligeiro defeito de um discurso sempre pesado...), já nesta fase avançada do caminho para o abismo... - uma inversão. Isso mesmo! E inesperada sobretudo entre as altas e insensiveis esferas da Partidocracia e do Poder Central; no entanto compreensivel para quem recorda e vive a vida dos concelhos, herança preciosa dos sábios tempos das cartas de foral. Há custos administrativos a reduzir, é certo, - mas a reforma autárquica posta em marcha pelo Governo ameaça deitar abaixo o Sistema por via do - até sanguinolento - método da Maria da Fonte.
Será ela, outra vez, a acordar-nos a redescoberta da nossa identidade própria.
Em suma, porque nos revemos nas freguesias de onde somos, nós e os nossos. Não, decerto, nos mega-centros urbanos; mas indeclinavelmente no restante do território que é dos outros sete milhões de portugueses. E (com todas as sinuosidades que caracterizam o que são apenas tendências) os sinos tocarão a rebate em crescendo do sul para norte e do poente para nascente...
A putativa explicação oficial então trazida a público - a velha história do atraso das gentes - de nada servirá. A não ser para exasperar ainda mais os fregueses de cada freguesia a extinguir, onde a "independência" não é mesmo palavra vã.