Anatomias da alma
Recorda a ponte e a lição do silêncio. Quando afinal os fundos escuros e lodosos eram a cidade dos peixes. Recorda-a, escuta o deslizar das águas entre os choupos e salgueiros e o grande barbo não te passará despercebido. Nem a lontra ou a família de tourões no lamaçal das margens, brincando aos pés da tua quietude.
Lê a vida na suavidade dos rios. No colorido das aves. Tranquilamente, conhecendo quem te cerca e deslindando todas as confusões.
Enquanto não, sofrerás apenas a tua revolta. (O barbo era grande por demais... Onde tinhas a atenção?).
O tropel das palavras é nada. Não esqueças sílaba alguma e ouve sobretudo. Fala mais com os olhos. Descobrirás que o umbigo é autoritário, nunca introspectivo. O umbigo berra permanentemente, clamando por mesuras, elogios. Vive negando a liberdade do recato e transforma opiniões em sentenças condenatórias. Palra imenso, não se cala, o umbigo.
(Ao despedires-te da ponte, mesmo sem teres visto o grande barbo diante do teu nariz, ias de mão dada... - com o teu umbigo?)