No tropel do Tempo
Em lugares do meu sangue ainda se ouve à distância sapatear na pedra. E os cães ladram excitados por esse ritmo que já não é de todos os dias. Nem sequer brotando de dentro, antes das redondezas, simpática vizinhança e abençoados domingos e feriados...
Então, a calçada enche-se do matraquear dos cascos. Os grupos de pedestres param a deixar passar as atrelagens, como quem folheia um pouco à pressa a história de antigamente. E a admiração cresce com algum esquadrão de cavaleiros, numa carga heróica contra o tempo, fazendo-o recuar, espadeirando as motorizadas.
Assim a minha vadiagem me conduz a memórias saudáveis e carregadas de sentido e estética. Muros graníticos, ramadas, o sol outonal... Ainda nadamos, à tona do plástico.
Possa, por isso, o presente ser apenas um momento menos bom, com sucessores muito melhores. Até que, na dança das cadeiras entre o antes, o agora e o depois, a gente se ria porque foi o passado que perdeu o jogo e ficou de pé.
Era vivermos felizes hoje: entusiasmados pelo tropel de amanhã, sem ressentimentos com ontem.