"Sereia"
João-Afonso Machado, 06.11.20
Segredavam no cais temerosos,
partiu sem vento, o arrais
voz de encorajamento,
consigo o leme, o querer,
poderosos.
E dizem partiu a nave, vão sós
eles mareantes no nevoeiro
(que os ouviram gemer…)
- um leixão, as correntes, a ondulação,
quem os levará primeiro?
Nessa já lonjura
em cuja proa, corpo macio
de madeira escura, a deusa enfrentava a sorte
e o seu busto a dominava,
figura de susto nem um arremedo
num olhar quedo a vida inteira,
barca indo cedo, indo prazenteira, cheia de porte,
indo sem velas, sereia a navegava
para a morte.