Como Marte
Lisboa colada ao televisor aterrada com os números. Ou mascarada, no imparável movimento das suas ruas. Numa multiplicidade de ruídos e bólides que parece o negro silêncio do cosmos. Cidade doente - de uma doença que Nosso Senhor lhe deu, como se escrevia antigamente, - já uma varíola em todo o corpo nacional.
Lisboa triste, preocupada, coartada. Sem sol e, assim, sem a sombra de cada um para carregar sozinha as suas apreensões.
Lisboa e a sua constelação de ruas, universo infindo, labirintico. Mas, de repente, uma praça e nela o Padroeiro, ao centro. Escoltado por prédios portentosos e perfilados. Em toda a amplitude de uma sala e o seu trono real.
Lisboa, povoada de naves e foguetões, afinal com um espaço de fuga aos formigueiros. Lisboa respirável o bastante para o óculo dos mareantes topar ao longe as lojinhas, a chalaça, meninas de apetite. Nas imediações do Padroeiro, por isso, as cores cruas da boa disposição, caras e expressões que se cruzam e cumprimentam todos os dias.
Lisboa, um planeta habitável e com vida...