Atenas (I) - Em volta da Acrópole
Em boa verdade, a primeira experiência ateniense consistiu na perícia - ou no desvario - dos seus taxistas, numa correria louca até à outra banda da cidade. Urgia visitar o grande santuário, vamos exagerar: a Meca dos gregos.
Não era absolutamente necessário ir lá acima. A Acrópole surge para a história no período micénico, em finais da Idade do Bronze. Foi crescendo, foi sendo destruída e reconstruída. Conheceu a tirania de Pisístrato, muralhara-na, vieram os persas e desvastaram a pobre coitada, Péricles recompensou-a, oferecendo-lhe o Parténon. Mas chegariam, entretanto, os turcos... e, já no "nosso" século XVII, os genoveses e a sua artilharia, a deitarem tudo ao chão outra vez.
Por isso, havia que não a incomodar, nem cair nas garras de qualquer maçador cicerone. Ficaram algumas fotografias, mais de pormenor, um nada bisbilhoteiras,
e os deuses, e os seus amores com as sacerdotisas que os serviam, todos lá no seu cantinho. Abaixo celebrava-se uma animação verdadeira, mas ponderada, na Dionisiou Aeropagitou, com muitos turistas e muito cantorio: do nacional, deles, aos Beatles de todo o mundo.
Uma avenida sorridente, muito educada, onde as pessoas param, ouvem a música, dançam mesmo ao som das suas preferidas. Captando a voz esplêndida de uma cantora-organista a entoar Nina Simone, não me contive de acenar, trautear qualquer coisa da melodia e ir indo, com adeuses de chapéu e algum gingar.
Eram Zorbas por toda a parte e eu juraria, cruzei-me com o grande, o imenso, Anthony Quinn. Porém, mesmo em tais momentos de emoção, os gatos helénicos dormiam placidamente,
a igreja de Santa Sofia, ortodoxa, também parecia repousar, observando os quatro cantos do mundo a convergir para o seu terreiro,
e na trasversal Kariatidon, um pacato ateniense regressava a casa, decerto após mais um dia de trabalho. Santa convivência, a dos deuses e humanos, ali na capital da sabedoria mitológica. Por lá me demorei, magnetizado não sei por que força a prender-me nessa paz, nessa paisagem de gentes e cantares. Até que, descendo a rua e atravesssando a seguinte,
ainda apanhei o Templo de Zeus, o deus dos deuses, o barbas temível do Olimpo, e o Arco de Adriano,
o imperador romano que não prescindiu de ali deixar, para a posteridade, a sua marca pessoal. Era, arqueologicamente, o fim do passeio em Atenas. Repousante, como disse, numa mescla de rock e balalaicas, em que Afrodite, muito bem sucedida, acabara seduzindo o iracundo Poseídon...