Em demanda dos mitos
Parto em caravela alada e barulhenta. Numa qualquer passarola fumegante, enferrujada, oscilante, mas parto enquanto é tempo. Aconselham-me os áugures e garantem: vá-se embora, mas vá já, enquanto ainda os ventos são propícios.
Parto para destino impreciso, pressupondo ultrapassar as fardas fronteiriças: é tão certo partir quanto incerto chegar. Há, realmente, qualquer coisa de agridoce nesta clandestina debandada...
Mas a meteorologia - leram os áugures nas entranhas dos peixes - não é catastrófica e a mitologia sopra de popa. Oiço as peripécias mediterrânicas marchadas de cidade em cidade ou remadas de ilha para ilha, e trago já na cabeça o capacete dos aqueus e todo o bronze micénico. Para começar pelo princípio... E, no olfacto, a quietude do Egeu e do Mar Jónico, como qualquer cão pisteiro no seu encalço.
Vou. Numa madrugada dessas, acobertado pela neblina, em busca de penedias e do fantástico. De um naco de queijo e um bom copo de vinho, tinto espesso quase licoroso. Assumidamente - a fugir de um mundo de estatísticas diárias com o qual os deuses do Olimpo se zangaram mesmo e já o azaragatoam.