Supersticiosos?
Leio em Antero de Figueiredo (Jornadas em Portugal, 1918) - «para os malefícios da vida e para os mistérios da morte, não basta ao minhoto a Religião, é necessária a superstição».
E, ao ler um trecho assim, embarco no Tempo até confirmar a veracidade da proposição. Direi apenas, perdi a conta a quanto andei até a encontrar.
Porque roubaram aos minhotos os sinos dos campanários e os sacristãos que os tocavam, transmitindo recados de freguesia para freguesia. E levaram-lhe o frio, o vagar dos serões, a lenha dos lares, a malga de tinto na venda. Arrasaram o verde das sua leiras, vales inteiros prenhes de gado e pragas rogadas ao vizinho, os varapaus e as vinganças, manhosos garranos de feiras cantadas ao desafio. E as desfolhadas, o diz-que-disse, coloridas concertinas pela noite fora. O mundo urbanizou o minhoto, se não o deixou pendurado, a baloiçar numa veneranda vinha de enforcado. Assim lhe arrancou a alma pelas costas, melifluamente, à traição.
É como agora o minhoto vive e trabalha. Para morrer numa corridinha de algumas horas até à sua derradeira morada (longe vai, para trás ficou, o toque a finados...). Neste aperto, onde topar um vagar para a superstição?
Já se foi, há muito esquecida nos anos. Nas mãos do minhoto restou apenas o anseio por uma vida melhor, o tempo da redenção que virá. No meu caso, a fé absoluta na torna d´El-Rei D. Sebastião.