Minha Mãe
No seu extraordinário Portugal e os Portugueses, D. Manuel Clemente oferece-nos uma religiosidade telúrica e quanto ela deve ser humanizada. «O Cristianismo é uma realidade ribeirinha», escreve Sua Eminência. Porque «foi sobre um pescador que a Igreja assentou» e não há «encontro com Jesus sem embarcar».
E depois a Sua Mãe - «água recriada donde pelo espírito brotou o mundo novo» - prossegue essa caminhada de verdadeiramente ultrapassar as abstrações e re-ligar o Homem ao Divino. «Maria-Mar: as três primeiros letras do seu nome já faziam da Terra de Santa Maria um cais de embarques infindáveis», acrescenta, com laivos de exoterismo.
As muitas invocações de Nossa Senhora... D. Manuel Clemente vai-as descobrindo, uma após a outra, ao longo do nosso mapa. Mas eu fico-me pela sossegada, silenciosa, Senhora das Areias da Pederneira, a antiga vila onde nasceu a Nazaré. E, há uns séculos, a Família da minha Mãe, faz hoje um ano ida para junto desses Entes, afinal tão próximos e tão entendíveis.
Por isso a verei sempre no largo da humilde Matriz da Pederneira, os olhos nas suas raízes, - quanto mais profundas, mais a árvore cresce e se aproxima dos céus... - de visão posta no infinito, porque a Mãe sempre o ansiou, onde agora vislumbra todos os seus, passados e presentes. Querida Mãe, quantas saudades! e a lembrança, sempre, do que a Mãe gostava das leituras em que Cristo fosse trazido para o meio das pessoas.