"Álvaro Marques - o edil"
Completaram-se agora 127 anos (o Tempo é, realmente, uma sanguessuga!), nascia em Famalicão Álvaro Folhadela Marques: foi a 4 de Setembro de 1893 e não demorou, pela falta prematura do seu Pai, a vida dos negócios da Família lhe fosse confiada e o obrigasse a assumir a gestão da Casa Folhadela & Cª.
(Uma era tão tranquila – no fundo, tão recuada! – que ainda se vivia não aflitamente em mercancias de responsabilidade ilimitada – os compêndios jurídicos assim expliquem em detalhe o sentido desta afirmação…)
E esses os tempos de uma urbe famalicense ainda adolescente, a pedir vitaminação, forças para chegar a hoje e a amanhã. Quem lê os jornais de então, dá conta de um punhado de patrícios acima de tudo apostados em fazer crescer a terra e em musculá-la para que diante de ninguém baqueasse. Álvaro Marques era indiscutivelmente um deles. Talvez o maior.
Pelo menos, uma personalidade vincada, pragmática e decidida a fazer obra. Não se lhe conhecem outros compromissos políticos que não os com a sua gente. Teria a confiança da II República – no termo de muitas hesitações, isso é sabido, - depois de passar pela vereação municipal e alcançar – por nomeação governamental - o grau de Presidente da Câmara, em 1945. E nesse cargo se manteve, ininterruptamente, até à sua morte súbita, partida que pregou a familiares e conterrâneos em 30 de Outubro de 1957.
Mas esses 12 anos foram, na história da edilidade, a dúzia dourada das intensas novidades. Por tal forma que ainda agora a praça principal, diante dos Paços do Concelho, ostenta o seu nome. Sem que alguém o questione.
Vivia no alto da Rua Camilo Castelo Branco – lembro bem a sua casa – rodeado de jardins com portal para a Rua Direita. Tudo veio abaixo há décadas, ficaram fotografias e memórias, um pouco de saudade da nossa velha vila e uma correnteza de prédios a ocupar esse espaço. É claro, já Álvaro Marques debandara há muito para um destino melhor, tão certo quanto a meta que alvejava em cada uma das imensas vezes que apanhou o comboio e foi a Lisboa, à Administração Central, reclamar pressa nos melhoramentos planeados para Famalicão.
(Sim, de comboio, sem avião, sem Mercedes, sem chauffeur, nem à partida, nem à chegada. Sozinho, em qualquer hotelzinho.)
Chamava-se a pessoas assim – “bairristas”. Um termo extinto na nossa imprensa: um termo, aliás, agora, em plena “globalização”, algo mal conotado. Na altura, o sinónimo de alguém que prezava, sobretudo, os interesses e o desenvolvimento da sua terra. E que punha esses objectivos acima dos seus, pessoais. Neste andamento, Álvaro Marques impulsionou a construção da cadeia no Talvai, dos passeios da Rua Adriano Pinto Basto e da Avenida – hoje – 25 de Abril; dos acessos à escola primária e à sua cantina e da edificação de muitos estabelecimentos do ensino básico no concelho; do embelezamento da actual Praça D. Maria II; e do imprescindível estádio futebolístico…
Mas muito mais: surgem, por então, novas artérias viárias; o “edifício de rendas económicas” da Rua Eng. Fernando Ulrich, a Avenida Humberto Delgado dos nossos dias; e “Bairro” que foi, deixou, e voltou a ser “do Cardeal Cerejeira”…
A coroar o bolo, o Mercado Municipal, a servir até ao ano transacto, e agora em remodelação. Todavia, seja ela como for, o Mercado Municipal sempre permanecerá sempre, talvez funcionando em moldes diferentes, - o mercado de Álvaro Marques.
Durante o seu prolongado mandato ocorreram os terríveis incêndios nos velhos Paços do Concelho. É também nele que o arquitecto Januário Godinho apresenta o seu vencedor projecto para um novo e arrojado edifício camarário. Álvaro Marques, porém, já não assistiria à sua inauguração, em 1961…
Nas caminhetas, os mais novos ouvem ainda, dos mais idosos, agradecidas invocações deste nosso edil. É de justiça! De resto, não numa caminheta, mas num restaurante, ouvi há pouco, de um deputado lisboeta, que Famalicão é um dos chamados “municípios-modelo”. Ainda bem!
Da rúbrica Ouvi nas caminhetas in Opinião Pública de 16.SET.2020)